quarta-feira, 18 de maio de 2011

O Preço de Um Guerreiro

Primeiro, vem a formação na academia, os treinamentos duros e intermináveis que chegam à beira da exaustão. Fome, frio, fumaça das bombas de gás lacrimogêneo, as bombas de efeito moral, os tiros de festim. Ainda que tudo isto possa parecer, aos olhos de alguns que não conhecem a fundo toda esta dinâmica do treinamento dos policiais militares e civis do Brasil, não tão difícil assim, eu digo que até mesmo o risco de morte, ou ainda de algum acidente grave, existe e é palpável, não podendo, em hipótese nenhuma, ser desconsiderado. Um instrutor de segurança, ministrando uma aula teórica com treinamento simulando um ataque a um carro forte, em meio à fumaça de uma bomba de gás encontrou um dos treinandos, que fazia o papel de assaltante, que, assustado, disparou a sua arma contra o instrutor, a curta distância, atingindo-o no rosto, quase deixando-o cego, e até hoje ele traz as marcas daquele momento no rosto tatuado pela pólvora. Quando o servidor do Estado sobe o morro atrás de um marginal, ele está indo ao encontro de armas modernas e poderosas, na maioria das vezes muito mais eficientes e eficazes do que as que ele mesmo porta, enfrentando situações de alto risco de morte, todos os dias, não sabendo se voltará para sua casa e sua família ao final do expediente. Sendo odiado pelo mundo do crime, ele porta a espada da justiça para defender a sociedade contra todas as investidas dos criminosos, percebendo, por isto, uma remuneração que, em princípio, deveria ser compatível com a sua exposição ao risco. Além de pagar pelo uniforme que usa, o policial tem (quando tem) à sua disposição uma viatura em péssimo estado de conservação, que não lhe oferece segurança nem para transitar sem estar em perseguição, quanto mais em. Esses homens, que entregam a sua vida por amor ao trabalho e à profissão, recebem por salário a importância de aproximadamente mil e quatrocentos reais, e não têm a mínima esperança de um aumento, a não ser pela pressão que pode ser exercida por um movimento grevista. Enquanto que nos Estados Unidos, um policial de Nova York tem um salário inicial de quase cinco mil reais (posto em moeda local para melhor entendimento) podendo praticamente dobrá-lo em apenas cinco anos de serviço prestado ao Estado e a sociedade, no Brasil nossos policiais amargam aquele valor irrisório que já mencionamos, e ainda pagam do próprio bolso, e muitas vezes, pelo próprio alimento e pelo combustível de suas viaturas, para que o serviço não seja interrompido. Apesar de todos os pesares, e do descaso dos governos com aquela instituição, indispensável para manter o equilíbrio de forças na sociedade, nossos policiais ainda trabalham e sentem orgulho de sua profissão, e é por este motivo que as coisas não são ainda piores do que já estão. Quanto vale o profissional com este perfil, ou quanto merece ele de salário? Segurança é uma obrigação do Estado e a sua falta, ou a sua fragilidade expõe a população do país ao risco de depredação de seu patrimônio, ao risco de morte, estupros, degolas e asfixia, balas perdidas, assaltos, roubos, etc. etc. etc. É preciso dar honra a quem tem honra.

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