domingo, 3 de julho de 2011

O CARRO


Deixando as controvérsias de lado, quando Gottlieb Daimler e Carl Benz se uniram com um só pensamento nasceu o protótipo do automóvel como o conhecemos hoje. Aquele “animal” esquisito veio sendo modelado desde o ano de mil e seiscentos, e evoluiu para o que vemos hoje nas nossas ruas, avenidas e estradas. De lá para cá, o amor pelo carro veio crescendo e chegou a um ponto, onde se começa a discutir a sua importância e os seus efeitos no mundo moderno. Não discutindo, agora, as questões ambientais que são de extrema importância, vamos nos ater à influência daquele veículo no ser humano, de uma maneira em geral. Velozes, e algumas vezes indomáveis, a não ser que o piloto tenha uma considerável experiência e habilidades, vão se chocando com cada vez mais violência e matando cada vez mais pessoas. É uma guerra para a qual os seus usuários não prestam muita atenção, ficando deslumbrados quando adquirem aquele que é a materialização de seus sonhos. Os pais que têm condições presenteiam seus filhos, que se formam nas faculdades, com lindos modelos que, não raro, se transformam em tumbas retorcidas, além de verdadeiros tanques de guerra. Algo muito estranho acontece, quando o homem entra em seu carro e ganha as ruas, seja para ir ao trabalho, à escola ou faculdade, seja para simplesmente dar um passeio, ou para fazer compras, pois ele se esquece, naqueles momentos que passa dentro de seu automóvel, que faz parte de um organismo vivo sujeito às mesmas regras e que deve obedecer às leis que foram instituídas, que é a nossa sociedade. Em sociedade todos estamos sujeitos aos mesmos direitos e deveres, mas, quando o homem está pelas ruas com o seu carro não parece ser assim. Cresce nele uma estranha sensação de poder, de domínio, de exclusividade e de absolutismo que toma conta de todo o seu ser e, então, as coisas mudam drasticamente. Se ele entra em um fluxo de trânsito que não anda segundo a sua vontade, tome buzina e palavrões, e, se alguém responde no mesmo nível porque se julga com os mesmos direitos, vamos ver uma briga terrível, que muitas vezes acaba em morte. Quando o homem se aproxima de uma vaga de estacionamento, que já foi vista anteriormente por outro motorista, apressa-se em tomá-la para si sem considerar a preferência. E isto também acontece nas vagas para deficientes físicos, ocupadas por aqueles que estão em perfeitas condições físicas e usurpam dos direitos dos outros. Nas estradas, que foram construídas para fluir todo tipo de veículo e produção do país, o homem em seu carro entende que elas foram feitas somente para ele, e anda como se não existisse mais ninguém, ultrapassa pelo acostamento, nas faixas duplas e desenvolve uma velocidade acima da permitida por lei. Quando parado pela autoridade policial, desce do seu carro ainda cheio de si e de um poder que somente ele entende ter, e acaba preso por desacato. No Estado do Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente, vemos cenas terríveis de demonstração de uma fúria incontida, quando motoristas têm seus veículos fechados por outros, e descem para a arena. Brigam mais que os lutadores de vale tudo. Os psicólogos tentam explicar o que acontece, mas, muitas vezes, até eles mesmos são vítimas de si próprios e se acham enredados pelos mesmos sentimentos dos outros homens. Há ainda as mulheres insatisfeitas, que reclamam que seus maridos ou namorados dão mais atenção ao seu carro do que a elas mesmas. Será que na essência de um carro novo – não limitando meu raciocínio somente a este - tem algum componente que “pira” a cabeça dos homens? Porque os automóveis nos transtornam e transformam? Vou continuar buscando respostas e, se não encontrá-las acabo vendendo o meu carro e comprando uma bicicleta. Será que resolve?

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